Eu saia de casa cedo. Chegava ao Weinmann preparado para os exames de sangue e urina; com 12 horas de jejum e apertado pra fazer xixi. Não é missão das mais fáceis. Esforço interminável e sem recompensa. Eu esperava, esperava e esperava. Quase todos que chegavam depois de mim, passavam na minha frente. Ficha preferencial. Eram muitos. Você já reparou que as pessoas de 60, 65 anos não demonstram sinais de velhice? Com raras exceções, claro. Muitos têm corpos sarados e aparência jovial, acordam cedo e correm 5 quilômetros antes de pegar a ficha de atendimento preferencial. Depois dos 40 e poucos, o que importa é o estado de conservação, não o ano de fabricação. Meus pedidos efusivos para antecipar o exame de urina nem sempre eram bem recebidos, embora sempre atendidos. Nunca contrarie um sujeito apertado. Isso me faz lembrar da pirâmide das necessidades de Maslow; primeiro as fisiológicas. Agora acabou. Meus exames laboratoriais, agendo para coleta à domicílio.
Dia desses precisei ir ao banco. Protestei, argumentei com o gerente via Whats, chat e ligação telefônica. Tentei outras alternativas, todas sem sucesso. Seria preciso passar no caixa. O horário de almoço era a única opção possível. Saí às 11:30 programando um almoço rápido depois do banco, antes de voltar ao trabalho. Retirei a senha otimista, apenas 3 pessoas na minha frente. Mas o otimismo foi derretendo quase tão rapidamente quanto manteiga ao fogo. Você já reparou que nessas ocasiões, sempre que chega alguém, as pessoas com ficha de atendimento normal ficam torcendo para que o entrante não seja preferencial? É quase um passatempo. Será que é? Tomara que não. As aparências enganam. Naquele dia, os preferenciais estavam em vantagem de 3 pra 1. Pior: estavam dispostos a conversar com os caixas. Até aí tudo bem, mas por que razão os caixas prolongavam as conversas sabendo que muitos aguardavam atendimento? Achei melhor não perguntar. Fiquei sem almoço, saí meio frustrado, mas admito que um jejum intermitente vez por outra não faz mal a ninguém.
Nas eleições tem acontecido algo parecido, muitos atletas da 3ª idade passam na frente da fila antes da corrida ou da caminhada dominical. Sinto-me um pouco injustiçado. Um amigo me disse que isso deve acabar logo logo, que estamos chegando com muita rapidez aos 60. Sim, falta pouco, mas não pretendo desfrutar desse direito indiscriminadamente. Planejo exercê-lo apenas em caso de necessidade ou quando me sentir muito injustiçado. Necessidade e sentimento de injustiça são conceitos bem relativos, é verdade. Um dilema ético se aproxima: quando usar o direito? Temo que não seja possível usufruir desse doce dilema porque os limites de idade desse tipo de prerrogativa estão sendo revistos de forma consistente nos últimos anos. Ouço boatos de que vai mudar, assim como mudou a idade para aposentadoria. Faz sentido, mas precisava mudar justo na minha vez?
Bah, não vejo a hora! Pra mim só falta 1 ano!!!
Pra mim 2, mas pretendo usar o direito só qdo me sentir injustiçado… to achando que será quase sempre…
Excelente!! Bem assim mesmo!! Eu noto isso muito frequentemente em estacionamento de supermercado ou de shopping. O cara desce do carro na vaga preferencial e parece ter 40 anos!
Pois é, Luiz. Eu, como não tô tão bem conservado, não vou gerar muitas dúvidas sobre a idade. O que vale é o estado de conservação, não acha? Um abraço.
Para mim 3. Mas acho baita sacanagem que fazem com os velhinhos, pois ficam o mês inteiro se preparando para ir ao banco buscar a aposentadoria e ter aquela conversa na fila, e o que acontece? caixa preferencial sem fila! Muita sacanagem.
Então… não tinha pensado nesse ponto de vista. Esse assunto merece outro texto quando chegarmos aos 60, não acha? Um abraço.