
Ontem fui a uma bela festa de casamento, daquelas que a gente não vê mais com tanta frequência. Lugar bem decorado, gente bonita, animada, música ao vivo, comida e bebida fartas e de ótima qualidade. Houve cuidado em cada detalhe — fácil perceber. Deu vontade de escrever sobre os vários sentimentos que surgiram, mas como não era possível sacar meu caderninho de escritor naquele momento, tentei guardar os mais relevantes para o dia seguinte. Hoje estou aqui tentando resgatá-los. Alguns sobreviveram à ressaca.
A primeira percepção foi que o tempo passou - e ele passa para todos, é implacável. Eu me reconheci trinta e tantos anos atrás vendo aqueles caras cheios de estilo com peito estufado e muitos planos. Talvez eu não tivesse tanto estilo, mas o espírito era o mesmo. O que será deles quando chegarem aos sessenta? Alguns serão felizes, outros nem tanto. Uns chegarão inteiros, outros, avariados pelo caminho, mas todos enfrentarão problemas no percurso. É possível que um ou outro não chegue, a vida é um mistério. Torço por eles, que consigam realizar grande parte dos sonhos, mesmo que ainda não os tenham sonhado. É preciso esquecer que o mundo pode ser um moinho - perdoem-me Cartola e Cazuza.
Os votos da noiva chamaram a atenção, não apenas pelas lágrimas do noivo que não fez questão de esconder a emoção. Sinal dos tempos que desassocia sensibilidade de força e quebra o mantra de que homem não chora, ao menos em público. Uma bela sonâmbula vestida de branco, que diz estar quase curada do sonambulismo pela convivência com o noivo — isso merecia registro. Paz e segurança; o amor também se manifesta assim.
Muitas taças de espumante depois, contagiado pela turma que dançava as músicas mais animadas do início do milênio, mas sem poder dançar dadas minhas condições físicas, desejei em silêncio felicidades ao casal. Desejei que consigam administrar suas imperfeições, que respeitem o espaço um do outro, e que decidam estar juntos todos os dias, porque amor é também decisão.
Eu conheço a noiva desde que era um bebê, lembrei, a questão da passagem do tempo voltou depois que parti para os drinks coloridos de Aperol. O que minha geração teria a dizer a eles? Tentei evocar o velho sábio e ranzinza que mora em mim. Que vençam os obstáculos da vida a dois com determinação, que não desistam nos primeiros problemas, relacionamentos descartáveis não costumam gerar felicidade, mas que não fiquem presos em relações infelizes como era comum antigamente.
Vendo minha mulher dançando na roda que se formava em volta dos noivos, percebi que, no fundo, desejo ao casal um casamento como o meu - e que daqui a trinta anos, possam olhar para trás e dizer que tudo valeu a pena.
Chega de sentimentalismo, decretei. Ao primeiro garçom que passou, apontei o copo quase vazio e pedi:
- Mais um spritz, por favor.
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